sexta-feira, 27 de maio de 2011

Resenha do livro O Principie - Maquiavel



Universalidade Estadual do Ceará

Centro de Humanidades

Curso de Filosofia

História da Filosofia III

Professor Carlos Henrique

Bacharelando Jair Sousa de Oliveira



RESENHA DO LIVRO “O PRÍNCIPE”

DE MAQUIAVEL



Fortaleza, 2011


CAPÍTULO XV

DAQUELAS COISAS PELAS QUAIS OS HOMENS, E ESPECIALMENTE OS PRÍNCIPES, SÃO LOUVADOS OU VITUPERADOS

Maquiavel apresenta os modos de proceder de um príncipe para com seus subordinados e amigos, o que imaginava ser uma presunção considerando que outros já escreveram a respeito. Entretanto, ele observou que os escritos de outros autores estavam mais ligados a uma imaginação do que deve ser, do que com o que de fato é. Expõe ainda, a necessidade do príncipe usar ou não de bondade dependendo do contexto em que se encontra. Deixando de lado a figura imaginária de um príncipe e falando sobre como realmente um príncipe é de fato. Discorre sobre as características que acarretam reprovação ou louvor. Afirma ser considerado louvável pelo senso comum que o príncipe possua apenas aqueles atributos chamados de bons, mas como a condição humana assim não permite, é necessário que o príncipe pelo menos saiba fugir dos vícios que lhe possam tirar o poder. Considera ainda no todo da realidade em questão, afirma a existência de algumas virtudes que se praticada podem causar ruína, como também vícios que podem acarretem bem-estar.

CAPÍTULO XVI

DA LIBERALIDADE E DA PARCIMÔNIA

Maquiavel afirma um bem ser considerado liberal. Entretanto, chama a atenção para o fato de que se esta liberalidade fosse conhecida por todos, acabaria sendo prejudicial, pois o príncipe teria que sobrecarregar o povo com muitos impostos para sustentar a suntuosidade da realeza e de seus nobres, o que tornaria o príncipe odioso perante o povo. Continuando a falar do mesmo problema, Maquiavel diz que se o príncipe percebe-se esse problema e tenta-se evita-lo, se tornaria conceitualmente miserável. E por não poder parecer liberal constantemente, em virtude dos danos que seriam causados ao príncipe, também não se deve temer a fama de miserável. Recomenda Maquiavel ao príncipe, gastar pouco não se importando de incorrer na fama de miserável. Entretanto, para aquele príncipe que se mantém de rapinagem, excetua-se a regra, do contrário, o esse mesmo príncipe não seria seguido pelos seus soldados. Por fim, conclui o capitulo dizendo que um príncipe se deve guardar de ser desprezado e odiado. E a liberalidade conduz o príncipe a uma e a outra dessas coisas.

CAPÍTULO XVII

DA CRUELDADE E DA PIEDADE; SE É MELHOR SER AMADO QUE TEMIDO, OU ANTES TEMIDO QUE AMADO

Nesse ponto Maquiavel defende que cada príncipe deseje ser considerado como piedoso e não como cruel, porém deve ter o cuidado de não usar mal essa piedade. Segundo Maquiavel, um príncipe não deve temer a má fama de cruel, desde que por ela mantenha seus súditos unidos e leais. Nascendo daí uma questão: se é melhor ser amado que temido ou o contrário. A resposta é de que seria necessário ser uma coisa e outra; mas, como é difícil reuni-las, e tendo que abrir mão de uma das duas é muito mais seguro ser temido do que amado. Devendo portanto o príncipe, fazer-se temer de forma que, se não conquistar o amor, fuja ao ódio, pois podem muito bem coexistir o ser temido e o não ser odiado. Maquiavel aponta ainda os caminhos para isso dizendo que o príncipe conseguirá sempre que se abstenha de tomar os bens e as mulheres de seus cidadãos e de seus súditos. Porém, se o príncipe está à frente de seus exércitos e tem sob seu comando uma multidão de soldados, então é necessário não se importar com a fama de cruel, pois sem ela, jamais se conservará exército unido e disposto a alguma empresa. Conclui Maquiavel, que um príncipe sábio, amando os homens como a eles agrada e sendo por eles temido como deseja, deve apoiar-se naquilo que é seu e não no que é dos outros; ...deve apenas empenhar-se em fugir ao ódio.

CAPÍTULO XVIII

DE QUE MODO OS PRÍNCIPES DEVEM MANTER A FÉ DA PALAVRA DADA

Afirma o filosofo que todos compreendem o quanto é louvável um príncipe manter a palavra dada; contudo, vê-se alguns príncipes terem realizado grandes coisas, tendo em pouca conta a fé da palavra dada; que no final, conseguiram até superar aqueles que se firmaram sobre a lealdade. Nesse momento faz uma antologia sobre o caráter do príncipe quando diz ser necessário saber empregar bem o animal e o homem. Devendo o príncipe tomar como modelos a raposa e o leão: Ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos. Nas palavras de Maquiavel um senhor prudente não pode nem deve guardar sua palavra, quando isso seja prejudicial aos seus interesses e quando desapareceram as causas que o levaram a empenhá-la. E não esquece de enfatizar a importância de saber disfarçar bem esta qualidade e ser grande simulador e dissimulador. Ressalta ainda, que a um príncipe não é essencial possuir todas as qualidades, basta parecer possuí-las. Possuindo-as e usando-as sempre, elas são danosas, enquanto que, aparentando possuí-las, são úteis. Ou seja, é preciso que o príncipe tenha um espírito disposto a adequar-se segundo os ventos da sorte e as variações que os fatos o determinem.

CAPÍTULO XIX

DE COMO SE DEVA EVITAR O SER DESPREZADO E ODIADO

Quanto ao tema deste capitulo, Maquiavel enfatiza mais ma vez que se o príncipe for rapace e usurpador dos bens e das mulheres dos súditos, se tornará odioso. E para manter-se no poder deve fugir dese comportamento. Continua dizendo que o príncipe se torna desprezível ao ser considerado volúvel, leviano, efeminado, pusilânime, irresoluto. Devendo o príncipe empenhe-se para que nas suas ações se reconheça grandeza, coragem, gravidade e fortaleza. Conclui Maquiavel que um príncipe deve dar pouca importância às conspirações se o povo lhe é benévolo; mas quando este lhe seja adverso e o tenha em ódio, deve temer tudo e a todos. E aponta que o ódio se adquire tanto pelas boas como pelas más ações, dependendo do contexto.




segunda-feira, 9 de maio de 2011

Peço licença pra discordar




Como diria o meu estimado Professor Alberto Dias Gadanha, "pensar é negar". A todo momento fazemos leitura do mundo que nos cerca e nesse processo o senso comum tenta nos levar a reconhecer apenas a realidade superficial das coisas, esquecendo a raiz dos fatos, confundindo as causas com os efeitos. Um indivíduo portanto que busca um conhecimento mais profundo e verdadeiro daquilo que é, deve portanto, negar a razão existente. Isso significa usar o pensamento dialético na busca pela verdade, cancelar o que não é, manter aquilo que é, depois elevar de qualidade encontrando dessa forma um conhecimento mais próximo do que é real.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Filosofia

Filosofia (do grego Φιλοσοφία, literalmente «amor à sabedoria») é o estudo de problemas fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem.[1] Ao abordar esses problemas, a filosofia se distingue da mitologia e da religião por sua ênfase em argumentos racionais; por outro lado, diferencia-se das pesquisas científicas por geralmente não recorrer a procedimentos empíricos em suas investigações. Entre seus métodos, estão a análise conceptual, as experiências de pensamento, a argumentação lógica e outros métodos a priori.

Índice

[esconder]

[editar] Introdução

As inúmeras atividades a que nos dedicamos cotidianamente pressupõem a aceitação de diversas crenças e valores de que nem sempre estamos cientes. Acreditamos habitar um mundo constituído de diferentes objetos, de diversos tamanhos e diversas cores; acreditamos que esse mundo organiza-se num espaço tridimensional e que o tempo segue a sua marcha inexorável numa única direção. Acreditamos que as pessoas ao redor são em tudo semelhantes a nós, veem as mesmas coisas, têm os mesmos sentimentos e sensações e as mesmas necessidades. Buscamos interagir com outras pessoas, e encontrar alguém com quem compartilhar a vida e, talvez, constituir família, pois tudo nos leva a crer que essa é uma das condições para a nossa felicidade. Periodicamente reclamamos de abusos na televisão, em propagandas e noticiários, na crença de que há certos valores que estão sendo transgredidos por puro sensacionalismo. Em todos esses casos, nossas crenças e valores determinam nossas ações e atitudes sem que eles sequer nos passem pela cabeça. Mas eles estão lá, profundamente arraigados e extremamente influentes. Enquanto estamos ocupados em trabalhar, pagar as contas ou divertir-nos, não vemos necessidade de questionar essas crenças e valores. Mas nada impede que, em determinado momento, façamos uma reflexão profunda sobre o significado desses valores e crenças fundamentais e sobre a sua consistência. É nesse estado de espírito que formularemos perguntas como: “O que é a realidade em si mesma?”, “O que há por trás daquilo que vejo, ouço e toco?”, “O que é o espaço? E o que é o tempo?”, “Se o que aconteceu há um centésimo de segundo atrás já é passado, será que o presente não é uma ficção?”, “Será que tudo o que acontece é sempre antecedido por causas?”, “O que é a felicidade? E como alcançá-la?”, “O que é o certo e o errado?”, “O que é a liberdade?”.

Essas perguntas são tipicamente filosóficas e refletem algo que poderíamos chamar de atitude filosófica perante o mundo e perante nós mesmos. É a atitude de nos voltarmos para as nossas crenças mais fundamentais e esforçar-nos por compreendê-las, avaliá-las e justificá-las. Muitas delas parecem ser tão óbvias que ninguém em sã consciência tentaria sinceramente questioná-las. Poucos colocariam em questão máximas como “Matar é errado”, “A democracia é melhor que a ditadura”, “A liberdade de expressão e de opinião é um valor indispensável”. Mas, a atitude filosófica não reconhece domínios fechados à investigação. Mesmo em relação a crenças e valores que consideramos absolutamente inegociáveis, a proposta da filosofia é a de submetê-los ao exame crítico, racional e argumentativo, de modo que a nossa adesão seja restabelecida em novo patamar. Em outras palavras, a proposta filosófica é a de que, se é para sustentarmos certas crenças e valores, que sejam sustentados de maneira crítica e refletida.

Muitos autores identificam essa atitude filosófica com uma espécie de habilidade ou capacidade de se admirar com as coisas, por mais prosaicas que sejam. Na base da filosofia, estaria a curiosidade típica das crianças ou dos que não se contentam com respostas prontas. Platão, um dos pais fundadores da filosofia ocidental, afirmava que o sentimento de assombro ou admiração está na origem do pensamento filosófico:

"A admiração é a verdadeira característica do filósofo. Não tem outra origem a filosofia."
Platão, Teeteto.[2]

Na mesma linha, afirmava Aristóteles:

"Os homens começam e sempre começaram a filosofar movidos pela admiração."
Aristóteles, Metafísica, I 2.[3]

Embora essa capacidade de admirar-se com a realidade possa estar na origem do pensamento filosófico, isso não significa que tal admiração provoque apenas e tão somente filosofia. O sentimento religioso, por exemplo, pode igualmente surgir dessa disposição: a aparente perfeição da natureza, as sincronias dos processos naturais, a complexidade dos seres vivos podem causar profunda impressão no indivíduo e levá-lo a indagar se o responsável por tudo isso não seria uma Inteligência Superior. Uma paisagem que a todos parecesse comum e sem atrativos poderia atrair de modo singular o olho do artista e fazê-lo criar uma obra de arte que revelasse nuances que escaparam ao olhar comum. Analogamente, embora a queda de objetos seja um fenômeno corriqueiro, se nenhum cientista tivesse considerado esse fenômeno surpreendente ou digno de nota, não saberíamos nada a respeito da gravidade. Esses exemplos sugerem que, além de certa atitude em relação à nossa experiência da realidade, há um modo de interpelar a realidade e nossas crenças a seu respeito que diferenciariam essa investigação da religião, da arte e da ciência.

Ao contrário da religião, que se estabelece entre outras coisas sobre textos sagrados e sobre a tradição, a filosofia recorre apenas à razão para estabelecer certas teses e refutar outras. Como já mencionado acima a filosofia não admite dogmas. Não há, em princípio, crenças que não estejam sujeitas ao exame crítico da filosofia. Disso não decorre um conflito irreconciliável entre a filosofia e a religião. Há filósofos que argumentam em favor de teses caras às religiões, como, por exemplo, a existência de Deus e a imortalidade da alma. Mas um argumento propriamente filosófico em favor da imortalidade da alma apresentará como garantias apenas as suas próprias razões: ele apelará somente ao assentimento racional, jamais à ou à obediência.[4]

Os artistas assemelham-se aos filósofos em sua tentativa de desbanalizar a nossa experiência do mundo e alcançar assim uma compreensão mais profunda de nós mesmos e das coisas que nos cercam. Mas a forma em que apresentam seus resultados é bastante diferente. Os artistas recorrem à percepção direta e à intuição[5]; enquanto a filosofia tipicamente apresenta seus resultados de maneira argumentativa, lógica e abstrata.

Mas, se essa insistência na razão diferencia a filosofia da religião e da arte, o que a diferenciaria das ciências, uma vez que também essa privilegia uma abordagem metódica e racional dos fenômenos? A diferença é que os problemas tipicamente filosóficos não podem ser resolvidos por observação e experimentação[6]. Não há experimentos e observações empíricas que possam decidir qual seria a noção de “direitos humanos” mais adequada do ponto de vista da razão. O mesmo vale para outras noções, tais como “liberdade”, “justiça” ou “falta moral”. Não há como resolver em laboratório questões como: “quando tem início o ser humano?”, “os animais podem ser sujeitos de direitos?”, “em que medida o Estado pode interferir na vida dos cidadãos?”, “As entidades microscópicas postuladas pelas ciências têm o mesmo grau de realidade que os objetos da nossa experiência cotidiana (pessoas, animais, mesas, cadeiras, etc.)?”. Em resumo, quando um tópico é defendido ou criticado com argumentos racionais, e essa defesa ou ataque não pode contar com observações e experimentos para a sua solução, estamos diante de um debate filosófico.

[editar] A definição de "filosofia"

[editar] Etimologia

A palavra "filosofia" (do grego) é uma composição de duas palavras: philos (φίλος) e sophia (σοφία). A primeira é uma derivação de philia (φιλία) que significa amizade, amor fraterno e respeito entre os iguais; a segunda significa sabedoria ou simplesmente saber. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber; e o filósofo, por sua vez, seria aquele que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.[7]

A tradição atribui ao filósofo Pitágoras de Samos (que viveu no século V a.C.) a criação da palavra. Conforme essa tradição, Pitágoras teria cunhado o termo para modestamente ressaltar que a sabedoria plena e perfeita seria atributo apenas dos deuses; os homens, no entanto, poderiam venerá-la e amá-la na qualidade de filósofos.[7]

A palavra philosophía não é simplesmente uma invenção moderna a partir de termos gregos,[8]; mas, sim, um empréstimo tomado da própria língua grega. Os termos φιλοσοφος (philosophos) e φιλοσοφειν (philosophein) já teriam sido empregados por alguns pré-socráticos[9] (Heráclito, Pitágoras e Górgias) e pelos historiadores Heródoto e Tucídides. Em Sócrates e Platão, é acentuada a oposição entre σοφία e φιλοσοφία, em que o último termo exprime certa modéstia e certo ceticismo em relação ao conhecimento humano.

[editar] O conceito de filosofia

O conceito de "filosofia" sofreu, no transcorrer da história, várias alterações e restrições em sua abrangência. As concepções do que seja a filosofia e quais são os seus objetos de estudo também se alteram conforme a escola ou movimento filosófico. Essa variedade presente na história da filosofia e nas escolas e correntes filosóficas torna praticamente impossível elaborar uma definição universalmente válida de filosofia. Definir a filosofia é realizar uma tarefa metafilosófica. Em outras palavras, é fazer uma filosofia da filosofia. O sociólogo e filósofo alemão Georg Simmel ressaltou esse ponto ao dizer que um dos primeiros problemas da filosofia é o de investigar e estabelecer a sua própria natureza. Talvez a filosofia seja a única disciplina que se volte para si mesma dessa maneira. O objeto da física não é, certamente, a própria ciência da física, mas os fenômenos ópticos e elétricos, entre outros. A filologia ocupa-se de registros textuais antigos e da evolução das línguas, mas não se ocupa de si mesma. A filosofia, no entanto, move-se neste curioso círculo: ela determina os pressupostos de seu método de pensar e os seus propósitos através de seus próprios métodos de pensar e propósitos. Não há como apreender o conceito de filosofia fora da filosofia; pois somente a filosofia pode determinar o que é a filosofia.[10]

Platão e Aristóteles concordam em caracterizar a filosofia como uma atividade racional estimulada pelo assombro ou admiração. Mas, para Platão, o assombro é provocado pela instabilidade e contradições dos seres que percebemos pelos sentidos. A filosofia, no quadro platônico, seria a tentativa de superar esse mundo de coisas efêmeras e mutáveis e apreender racionalmente a realidade última, composta por formas eternas e imutáveis que, segundo Platão, só podem ser captadas pela razão. Para Aristóteles, ao contrário, não há separação entre, de um lado, um mundo apreendido pelos sentidos e, de outro lado, um mundo exclusivamente captado pela razão. A filosofia seria uma investigação das causas e princípios fundamentais de uma única e mesma realidade. O filósofo, segundo Aristóteles, “conhece, na medida do possível, todas as coisas, embora não possua a ciência de cada uma delas por si”. A filosofia almejaria o conhecimento universal, não no sentido de um acúmulo enciclopédico de todos os fatos e processos que se possam investigar, mas no sentido de uma compreensão dos princípios mais fundamentais, dos quais dependeriam os objetos particulares a que se dedicam as demais ciências, artes e ofícios. Aristóteles considera que a filosofia, como ciência das causas e princípios primordiais, acabaria por identificar-se com a teologia, pois Deus seria o princípio dos princípios.[11]

As definições de filosofia elaboradas depois de Platão e Aristóteles separaram a filosofia em duas partes: uma filosofia teórica e uma filosofia prática. Como reflexo da busca por salvação ou redenção pessoal, a filosofia prática foi gradativamente se tornando um sucedâneo da fé religiosa e acabou por ganhar precedência em relação à parte teórica da filosofia. A filosofia passa a ser concebida como uma arte de viver, que forneceria aos homens regras e prescrições sobre como agir e como se portar diante das inconstâncias do mundo. Essa concepção é muito clara em diversas correntes da filosofia helenística, como, por exemplo, no estoicismo e no neoplatonismo.[11]

Filósofo em Meditação, óleo de Rembrandt.

As definições de filosofia formuladas na Antiguidade persistiram na época de disseminação e consolidação do cristianismo, mas isso não impediu que as concepções cristãs exercessem influência e moldassem novas maneiras de se entender a filosofia. As definições de filosofia elaboradas durante a Idade Média foram coordenadas aos serviços que o pensamento filosófico poderia prestar à compreensão e sistematização da fé religiosa. Desse modo, a filosofia passa a ser concebida como “serva da teologia” (ancilla theologiae); e vários teólogos importantes buscam harmonizar a doutrina sagrada com o pensamento filosófico pagão.[11]

Os medievais mantiveram a acepção de filosofia como saber prático, como uma busca de normas ou recomendações para se alcançar a plenitude da vida. Santo Isidoro de Sevilha, ainda no século VII, definia a filosofia como “o conhecimento das coisas humanas e divinas combinado com uma busca pela vida moralmente boa” [12]

Tanto na Idade Média como em qualquer outra época da história ocidental, a compreensão do que é a filosofia reflete uma preocupação com questões essenciais para a vida humana em seus múltiplos aspectos. As concepções de filosofia do Renascimento e da Idade Moderna não são exceções. Também aí as noções do que seja a filosofia sintetizam as tentativas de oferecer respostas substantivas aos problemas mais inquietantes da época. O advento da era moderna fez ruir as próprias bases da sabedoria tradicional; e impôs aos intelecturais a tarefa de encontrar novas formas de conhecimento que pudessem restabelecer a confiança no intelecto e na razão. Para Francis Bacon - um dos primeiros filósofos modernos - a filosofia não deveria se contentar com uma atitude meramente contemplativa, como queriam os antigos e medievais; ao contrário, deveria buscar o conhecimento das essências das coisas a fim de obter o controle sobre os fenômenos naturais e, portanto, submeter a natureza aos desígnios humanos. Para Descartes, a filosofia, na qualidade de metafísica, é a investigação das causas primeiras, dos princípios fundamentais. Esses princípios devem ser claros e evidentes, e devem formar uma base segura a partir da qual se possam derivar as outras formas de conhecimento. É nesse sentido, entendendo-se a filosofia como o conjunto de todos os saberes e a metafísica como a investigação das primeiras causas, que se deve ler a famosa metáfora de Descartes: “Assim, a Filosofia é uma árvore, cujas raízes são a Metafísica, o tronco a Física, e os ramos que saem do tronco são todas as outras ciências”.

Após Descartes, a filosofia assume uma postura crítica em relação a suas próprias aspirações e conteúdos. Os empiristas britânicos, influenciados pelas novas aquisições da ciência moderna, dedicaram-se a situar a investigação filosófica nos limites do que pode ser avaliado pela experiência. Segundo a orientação empirista, temas tradicionais da filosofia, como as demonstrações da existência de Deus, da imortalidade da alma e de essências imutáveis seriam meros jogos de palavras, uma vez que as ideias com que operam não seriam adequadamente derivadas da experiência. De maneira análoga, Kant, ao elaborar sua doutrina da filosofia transcendental, rejeita a possibilidade de tratamento científico de muitos dos problemas da filosofia tradicional, uma vez que a adequada solução deles demandaria recursos que ultrapassam as capacidades do intelecto humano.

Para Edmund Husserl, a filosofia é uma ciência rigorosa dos fenômenos tal como nos aparecem, ou seja, tal como é a nossa consciência deles. Para descrevê-los, o filósofo deve pôr entre parênteses todas as suas pressuposições e preconceitos (até mesmo a certeza de que os objetos existem) e restringir-se apenas aos conteúdos da consciência.

Com a virada linguística do início do século XX, muitos filósofos passam a considerar a filosofia como uma análise de conceitos. Para Wittgenstein, os problemas filosóficos tradicionais são todos resultantes de confusões linguísticas; e a tarefa do filósofo seria a de esclarecer o modo como os conceitos são empregados a fim de explicitar tais confusões. Numa abordagem mais positiva sobre a atividade filosófica, Strawson considera que a filosofia é análoga à gramática: assim como os estudiosos da gramática explicitam as regras que os falantes inconscientemente empregam, a filosofia explicitaria conceitos-chave que, na construção de nossas concepções e argumentos, adotamos sem ter plena consciência de suas implicações e relações.[13]

[editar] Disciplinas filosóficas

A filosofia é geralmente dividida em áreas de investigação específica. Em cada área, a pesquisa filosófica dedica-se à elucidação de problemas próprios, embora sejam muito comuns as interconexões. As áreas tradicionais da filosofia são as seguintes:

  • Epistemologia ou teoria do conhecimento: é a área da filosofia que estuda a natureza do conhecimento, sua origem e seus limites. Dessa forma, entre as questões típicas da epistemologia estão: “O que diferencia o conhecimento de outras opiniões sobre a realidade?”, “O que podemos conhecer?”, “Como chegamos a ter conhecimento de algo?”.[14]
  • Ética ou filosofia moral: é a área da filosofia que trata das distinções entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. Procura identificar os meios mais adequados para aprimorar a vida moral e para alcançar uma vida moralmente boa. Também no campo da ética dão-se as discussões a respeito dos princípios e das regras morais que norteiam a vida em sociedade, e sobre quais seriam as justificativas racionais para adotar essas regras e princípios.[14]
  • Filosofia da Arte ou Estética: é a área que investiga o conceito de belo ou beleza. Entre as investigações dessa área, encontram-se aquelas sobre a natureza da arte e da experiência estética e sobre como a experiência estética se diferencia de outras formas de experiência.[14]
  • Lógica: é a área que trata das estruturas formais do raciocínio perfeito – ou seja, daqueles raciocínios cuja conclusão preserva a verdade das premissas. Na lógica são estudados os métodos e princípios que permitem distinguir os raciocínios corretos dos raciocínios incorretos.[15]
  • Metafísica: ocupa-se da elaboração de teorias sobre a realidade e sobre natureza fundamental de todas as coisas. O objetivo da metafísica é fornecer uma visão abrangente do mundo – uma visão que sintetize a realidade como um todo. Alguns autores consideram a ontologia (literalmente, a ciência do "ser") como sinônimo de metafísica. Para outros, a ontologia é uma subárea da metafísica, cujo tema principal seria a elaboração de escalas de realidade. Nesse sentido, a ontologia buscaria diferenciar as entidades básicas e elementares daquelas cuja existência depende da existência das entidades básicas.[14] Uma ontologia que dê prioridade às entidades físicas, por exemplo, tomará a existência de fenômenos mentais como dependentes de objetos físicos.

[editar] Evolução histórica

[editar] Pensamento mítico e pensamento filosófico

A filosofia surgiu nos séculos VII-VI a.C. nas cidades gregas situadas na Ásia Menor. Começa por ser uma interpretação des-sacralizada dos mitos cosmogônicos difundidos pelas religiões do tempo. Não apenas de mitos gregos, mas dos mitos de todas as religiões que influenciavam a Ásia menor.

Os mitos foram, segundo Platão e Aristóteles, a matéria inicial de reflexão dos filósofos. Os mitos tornaram-se um campo comum da religião e da filosofia, revelando que a pretensa separação entre esses dois modos do homem interpretar a realidade não é tão nítida como aparentemente se julga.

[editar] Filosofia antiga

A filosofia antiga teve início no século VI a.C. e se estendeu até a decadência do império romano no século V d. C. Pode-se dividi-la em quatro períodos: (1) o período dos pré-socráticos; (2) um período humanista, em que Sócrates e os sofistas trouxeram as questões morais para o centro do debate filosófico; (3) o período áureo da filosofia em Atenas, em que despontaram Platão e Aristóteles; (4) e o período helenístico. Às vezes se distingue um quinto período, que compreende os primeiros filósofos cristãos e os neoplatonistas. Os dois autores mais importantes da filosofia antiga em termos de influência posterior foram Platão e Aristóteles.

Os primeiros filósofos gregos, geralmente chamados de pré-socráticos, dedicaram-se a especulações sobre a constituição e a origem do mundo. O principal intuito desses filósofos era descobrir um elemento primordial, eterno e imutável que fosse a matéria básica de todas as coisas. Essa substância imutável era chamada de physis (palavra grega cuja tradução literal seria natureza, mas que na concepção dos primeiros filósofos compreendia a totalidade dos seres, inclusive entidades divinas),[16] e, por essa razão, os primeiros filósofos também foram conhecidos como os physiologoi (literalmente “fisiólogos”, isto é, os filósofos que se dedicavam ao estudo da physis).[17] A questão da essência material imutável foi a primeira feição assumida por uma inquietação que percorreu praticamente toda a filosofia grega. Essa inquietação pode ser traduzida na seguinte pergunta: existe uma realidade imutável por trás das mudanças caóticas dos fenômenos naturais? Já os próprios pré-socráticos propuseram respostas extremas a essa pergunta. Parmênides de Eleia defendeu que a perene mutação das coisas não passa de uma ilusão dos sentidos, pois a razão revelaria que o Ser é único, imutável e eterno.[18] Heráclito de Éfeso, por outro lado, defendeu uma posição diametralmente oposta: a própria essência das coisas é mudança, e seriam vãos os esforços para buscar uma realidade imutável.[19]

Tais especulações, que combinavam a oposição entre realidade e aparência com a busca de uma matéria primordial, culminaram na filosofia atomista de Leucipo e Demócrito. Para esses filósofos a substância de todas as coisas seriam partículas minúsculas e invisíveis – os átomos – em perene movimentação no vácuo. E os fenômenos que testemunhamos cotidianamente são resultado da combinação, separação e recombinação desses átomos.

A teoria de Demócrito representou o ápice da filosofia da physis, mas também o seu esgotamento. As transformações sociopolíticas, especialmente em Atenas, já impunham novas demandas aos sábios da época. A democracia ateniense solicitava novas habilidades intelectuais, sobretudo a capacidade de persuadir. É nesse momento que se destacam os filósofos que se dedicam justamente a ensinar a retórica e as técnicas de persuasão – os sofistas. O ofício dessa nova espécie de filósofos trazia como pressuposto a ideia de que não há verdades absolutas. O importante seria dominar as técnicas da boa argumentação, pois, dominando essas técnicas, o indivíduo poderia defender qualquer opinião, sem se preocupar com a questão de sua veracidade. De fato, para os sofistas, a busca da verdade era uma pretensão inútil. A verdade seria apenas uma questão de aceitação coletiva de uma crença, e, a princípio, não haveria nada que impedisse que o que hoje é tomado como verdade, amanhã fosse considerado uma tolice.[20]

O contraponto a esse relativismo dos sofistas foi Sócrates. Embora partilhasse com os sofistas certa indiferença em relação aos valores tradicionais, Sócrates dedicou-se à busca de valores perenes. Sócrates não deixou nenhum registro escrito de suas ideias. Tudo o que sabemos dele chegou-nos através do testemunho de seus discípulos e contemporâneos. Segundo dizem, Sócrates teria defendido que a virtude é conhecimento e as faltas morais provêm da ignorância.[21] O indivíduo que adquirisse o conhecimento perfeito seria inevitavelmente bom e feliz. Por outro lado, essa busca simultânea do conhecimento e da bondade deve começar pelo exame profundo de si mesmo e das crenças e valores aceitos acriticamente. Segundo contam, Sócrates foi um inquiridor implacável e fez fama por sua habilidade de levar à exasperação os seus antagonistas. Ao concidadão que se dizia justo, Sócrates perguntava “O que é a justiça?”, e depois se dedicava a demolir todas as tentativas de responder à pergunta.

A Morte de Sócrates, Jacques-Louis David, 1787.

A atitude de Sócrates acabou por lhe custar a vida. Seus adversários conseguiram levá-lo a julgamento por impiedade e corrupção de jovens. Sócrates foi condenado à morte – mais especificamente, a envenenar-se com cicuta. Segundo o relato de Platão, o seu mais famoso discípulo, Sócrates cumpriu a sentença com absoluta serenidade e destemor.

Coube a Platão levar adiante os ensinamentos do mestre e superá-los. Platão realiza a primeira grande síntese da filosofia grega. Em seus diálogos, combinam-se as antigas questões dos pré-socráticos com as urgentes questões morais e políticas, o discurso racional com a intuição mística, a elucubração lógica com a obra poética, os mitos com a ciência.

Segundo Platão, os nossos sentidos só nos permitem perceber uma natureza caótica, em que as mudanças e a diversidade aparentam não obedecer a nenhum princípio regulador; mas a razão, ao contrário, é capaz de ir além dessas aparências e captar as formas imutáveis que são as causas e modelos de tudo o que existe. A geometria fornece um exemplo perfeito. Ao demonstrar seus teoremas os geômetras empregam figuras imperfeitas. Por mais acurado que seja o compasso, os desenhos de círculos sempre conterão irregularidades e imperfeições. As figuras sensíveis do círculo estão sempre aquém de seu modelo – e esse modelo é a própria ideia de círculo, concebível apenas pela razão. O mesmo ocorre com os demais seres: os cavalos que vemos são todos diferentes entre si, mas há um princípio unificador – a ideia de cavalo – que nos faz chamar a todos de cavalos. Com os valores, não seria diferente. As diferentes opiniões sobre questões morais e estéticas devem-se a uma visão empobrecida das coisas. Os que empreenderem uma busca sincera alcançarão a concepção do Belo em si mesmo e do Bem em si mesmo.

Ao contrário do que o termo “ideias” possa sugerir, Platão não as considera como meras construções psicológicas; ao contrário, ele lhes atribui realidade objetiva. As ideias constituem um mundo suprassensível – ou seja, uma dimensão que não podemos ver e tocar, mas que podemos captar como os “olhos” da razão. Essa é a famosa teoria das ideias de Platão. Ele a ilustra numa alegoria igualmente célebre – a alegoria da caverna.

Platão nos convida a imaginar uma caverna em que se acham vários prisioneiros. Eles estão amarrados de tal maneira que só podem ver a parede do fundo da caverna. Às costas dos prisioneiros há um muro da altura de um homem. Por trás desse muro, transitam várias pessoas carregando estátuas de diversas formas – todas elas são réplicas de coisas que vemos na natureza (árvores, pássaros, casas etc.). Há também uma grande fogueira, atrás desse muro e dos carregadores. A luz da fogueira faz com que as sombras das estátuas sejam projetadas sobre o fundo da parede. Os barulhos e falas dos carregadores reverberam no fundo da caverna, dando aos prisioneiros a impressão de que são oriundos das sombras que eles veem. Nessa situação imaginária, os prisioneiros pensariam que as sombras e os ecos constituem tudo o que existe. Como nunca puderam ver nada além das sombras projetadas na parede da caverna, acreditam que apenas as sombras são reais.

Após apresentar esse cenário, Platão sugere que, se um desses prisioneiros conseguisse se libertar, veria, com surpresa, que as estátuas que sempre estiveram atrás dos prisioneiros são mais reais do que aquelas sombras. Ao sair da caverna, a luz o ofuscaria; mas, após se acostumar com a claridade, veria que as coisas da superfície são ainda mais reais do que as estátuas. Esse prisioneiro que se liberta é o filósofo, e a sua jornada em direção à superfície representa a o percurso da razão em sua lenta ascensão ao conhecimento perfeito.

[editar] Filosofia medieval

A filosofia medieval é a filosofia da Europa ocidental e do Oriente Médio durante a Idade Média. Começa, aproximadamente, com a cristianização do império romano e encerra-se com a Renascença. A filosofia medieval pode ser considerada, em parte, como prolongamento da filosofia greco-romana[22] e, em parte, como uma tentativa de conciliar o conhecimento secular e a doutrina sagrada.[23]

A Idade Média carregou por muito tempo o epíteto depreciativo de "idade das trevas", atribuído pelos humanistas renascentistas; e a filosofia desenvolvida nessa época padeceu do mesmo desprezo. No entanto, essa era de aproximadamente mil anos foi o mais longo período de desenvolvimento filosófico na Europa e um dos mais ricos. Jorge Gracia defende que “em intensidade, sofisticação e aquisições, pode-se corretamente dizer que o florescimento filosófico no século XIII rivaliza com a época áurea da filosofia grega no século IV a. C.”[24].

Entre os principais problemas discutidos nessa época estão a relação entre fé e razão, a existência e unidade de Deus, o objeto da teologia e da metafísica, os problemas do conhecimento, dos universais e da individualização.

Entre os filósofos medievais do ocidente, merecem destaque Agostinho de Hipona, Boécio, Anselmo de Cantuária, Pedro Abelardo, Roger Bacon, Boaventura de Bagnoregio, Tomás de Aquino, João Duns Escoto, Guilherme de Ockham e Jean Buridan; na civilização islâmica, Avicena e Averrois; entre os judeus, Moisés Maimônides.

Tomás de Aquino (1225-1274), fundador do tomismo, exerceu influência inigualável na filosofia e na teologia medievais. Em sua obra, ele deu grande importância à razão e à argumentação, e procurou elaborar uma síntese entre a doutrina cristã e a filosofia aristotélica. A filosofia de Tomás de Aquino representou uma reorientação significativa do pensamento filosófico medieval, até então muito influenciado pelo neoplatonismo e sua reinterpretação agostiniana.

[editar] Filosofia do Renascimento

O Homem vitruviano, de Leonardo Da Vinci, resume vários dos ideais do pensamento renascentista.

A transição da Idade Média para a Idade Moderna foi marcada pelo Renascimento e pelo Humanismo.[25] Nesse período de transição, a redescoberta de textos da Antiguidade[26] contribuiu para que o interesse filosófico saísse dos estudos técnicos de lógica, metafísica e teologia e se voltasse para estudos ecléticos nas áreas da filologia, da moralidade e do misticismo. Os estudos dos clássicos e das letras receberam uma ênfase inédita e desenvolveram-se de modo independente da escolástica tradicional. A produção e disseminação do conhecimento e das artes deixam de ser uma exclusividade das universidades e dos acadêmicos profissionais, e isso contribui para que a filosofia vá aos poucos se desvencilhando da teologia. Em lugar de Deus e da religião, o conceito de homem assume o centro das ocupações artísticas, literárias e filosóficas.[27]

O renascimento revigorou a concepção da natureza como um todo orgânico, sujeito à compreensão e influência humanas. De uma forma ou de outra, essa concepção está presente nos trabalhos de Nicolau de Cusa, Giordano Bruno, Bernardino Telesio e Galileu Galilei. Essa reinterpretação da natureza é acompanhada, em muitos casos, de um intenso interesse por magia, hermetismo e astrologia – considerados então como instrumentos de compreensão e manipulação da natureza.

À media que a autoridade eclesial cedia lugar à autoridade secular e que o foco dos interesses voltava-se para a política em detrimento da religião, as rivalidades entre os Estados nacionais e as crises internas demandavam não apenas soluções práticas emergenciais, mas também uma profunda reflexão sobre questões pertinentes à filosofia política. Desse modo, a filosofia política, que por vários séculos esteve dormente, recebeu um novo impulso durante o Renascimento. Nessa área, destacam-se as obras de Nicolau Maquiavel e Jean Bodin.[28]

[editar] Filosofia moderna

René Descartes, fundador da filosofia moderna e do racionalismo.

A filosofia moderna é caracterizada pela preponderância da epistemologia sobre a metafísica. A justificativa dos filósofos modernos para essa alteração estava, em parte, na ideia de que, antes de querer conhecer tudo o que existe, seria conveniente conhecer o que se pode conhecer.[29]

Os principais debates dessa época foram, portanto, debates epistemológicos. O racionalismo, a escola que ressalta o papel da razão na aquisição do conhecimento, teve como seu principais protagonistas René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Leibniz. Por outro lado, a escola empirista, que defende que a nossa única fonte de conhecimento é a experiência, teve como defensores Francis Bacon, John Locke, David Hume e George Berkeley.

Em 1778, Immanuel Kant publicou a sua famosa Crítica da Razão Pura, em que rejeita aquelas duas correntes e propõe uma alternativa. Segundo Kant, apesar de o nosso conhecimento depender de nossas percepções sensoriais, essas não constituem todo o nosso conhecimento, pois existem determinadas estruturas do sujeito que as antecedem e tornam possível a própria formação da experiência. O espaço, por exemplo, não é uma realidade que passivamente assimilamos a partir de nossas impressões sensoriais. Ao contrário, somos nós que impomos uma organização espacial aos objetos. Do mesmo modo, o sujeito não aprende, após inúmeras experiências, que todas as ocorrências pressupõem uma causa; antes, é a estrutura peculiar do sujeito que impõe aos fenômenos uma organização de causa e efeito. Uma das consequências da filosofia kantiana é estabelecer que as coisas em si mesmas não podem ser conhecidas. A fronteira de nosso conhecimento é delineada pelos fenômenos, isto é, pelos resultados da interação da realidade objetiva com os esquemas cognitivos do sujeito.

Na França, difundiram-se as ideias do empirismo inglês; e o entusiasmo com as novas ciências levou os intelectuais franceses a defender uma ampla reforma cultural, que remodelasse não só a forma de se produzir conhecimento, mas também as formas de organização social e política. Esse movimento amplo e contestatório ficou conhecido como Iluminismo. Os filósofos iluministas rejeitavam qualquer forma de crença que se baseasse apenas na tradição e na autoridade, em especial as divulgadas pela igreja católica. Um dos marcos do Iluminismo francês foi a publicação da Encyclopédie. Elaborada sob a direção de Jean le Rond d’Alembert e Denis Diderot, essa obra enciclopédica inovadora incorporou vários dos valores defendidos pelos iluministas e contou com a colaboração de vários de seus nomes mais destacados, como Voltaire, Montesquieu e Rousseau.

[editar] Filosofia do século XIX

Geralmente se considera que depois da filosofia de Kant tem início uma nova etapa da filosofia, que se caracterizaria por ser uma continuação e, simultaneamente, uma reação à filosofia kantiana. Nesse período desenvolve-se o idealismo alemão (Fichte, Schelling e Hegel), que leva as ideias kantianas às últimas consequências. A noção de que há um universo inteiro (a realidade em si mesma) inalcançável ao conhecimento humano, levou os idealistas alemães a assimilar a realidade objetiva ao próprio sujeito no intuito de resolver o problema da separação fundamental entre sujeito e objeto. Assim, por exemplo, Hegel postulou que o universo é espírito. O conjunto dos seres humanos, sua história, sua arte, sua ciência e sua religião são apenas manifestações desse espírito absoluto em sua marcha dinâmica rumo ao autoconhecimento.[30]

Enquanto na Alemanha, o idealismo apoderava-se do debate filosófico, na França, Auguste Comte retomava uma orientação mais próxima das ciências e inaugurava o positivismo e a sociologia. Na visão de Comte, a humanidade progride por três estágios: o estágio teológico, o estágio metafísico e, por fim, o estágio positivo. No primeiro estágio, as explicações são dadas em termos mitológicos ou religiosos; no segundo, as explicações tornam-se abstratas, mas ainda carecem de cientificidade; no terceiro estágio, a compreensão da realidade se dá em termos de leis empíricas de “sucessão e semelhança” entre os fenômenos.[31] Para Comte, a plena realização desse terceiro estágio histórico, em que o pensamento científico suplantaria todos os demais, representaria a aquisição da felicidade e da perfeição.[32]

Também no campo do desenvolvimento histórico, Marx e Engels davam uma nova formulação ao socialismo. Eles fazem uma releitura materialista da dialética de Hegel no intuito de analisar e condenar o sistema capitalista. Desenvolvem a teoria da mais-valia, segundo a qual o lucro dos capitalistas dependeria inevitavelmente da exploração do proletariado. Sustentam que o estado, as formas político-institucionais e as concepções ideológicas formavam uma superestrutura construída sobre a base das relações de produção[33] e que as contradições resultantes entre essa base econômica e a superestrutura levariam as sociedades inevitavelmente à revolução e ao socialismo.

[editar] Filosofia do século XX

No século XX, a filosofia tornou-se uma disciplina profissionalizada das universidades, semelhante às demais disciplinas acadêmicas. Desse modo, tornou-se também menos geral e mais especializada. Na opinião de um proeminente filósofo: “A filosofia tem se tornado uma disciplina altamente organizada, feita por especialistas para especialistas. O número de filósofos cresceu exponencialmente, expandiu-se o volume de publicações e multiplicaram-se as subáreas de rigorosa investigação filosófica. Hoje, não só o campo mais amplo da filosofia é demasiadamente vasto para uma única mente, mas algo similar também é verdadeiro em muitas de suas subáreas altamente especializadas.”[34]

O matemático e filósofo britânico Bertrand Russell, um dos fundadores da filosofia analítica.

Nos países de língua inglesa, a filosofia analítica tornou-se a escola dominante. Na primeira metade do século, foi uma escola coesa, fortemente modelada pelo positivismo lógico, unificada pela noção de que os problemas filosóficos podem e devem ser resolvidos por análise lógica. Os filósofos britânicos Bertrand Russell e George Edward Moore são geralmente considerados os fundadores desse movimento. Ambos romperam com a tradição idealista que predominava na Inglaterra em fins do século XIX e buscaram um método filosófico que se afastasse das tendências espiritualistas e totalizantes do idealismo. Moore dedicou-se a analisar crenças do senso comum e a justificá-las diante das críticas da filosofia acadêmica. Russell, por sua vez, buscou reaproximar a filosofia da tradição empirista inglesa e sintonizá-la com as descobertas e avanços científicos. Ao elaborar sua teoria das descrições definidas, Russell mostrou como resolver um problema filosófico empregando os recursos da nova lógica matemática. A partir desse novo modelo proposto por Russell, vários filósofos se convenceram de que a maioria dos problemas da filosofia tradicional, se não todos, não seriam nada mais que confusões propiciadas pelas ambiguidades e imprecisões da linguagem natural. Quando tratados numa linguagem científica rigorosa, esses problemas revelar-se-iam como simples confusões e mal-entendidos.

Uma postura ligeiramente diferente foi adotada por Ludwig Wittgenstein, discípulo de Russell. Segundo Wittgenstein, os recursos da lógica matemática serviriam para revelar as formas lógicas que se escondem por trás da linguagem comum. Para Wittgenstein, a lógica é a própria condição de sentido de qualquer sistema linguístico. Essa ideia está associada à sua teoria pictórica do significado, segundo a qual a linguagem é capaz de representar o mundo por ser uma figuração lógica dos estados de coisas que compõem a realidade.

Sob a inspiração dos trabalhos de Russell e de Wittgenstein, o Círculo de Viena passou a defender uma forma de empirismo que assimilasse os avanços realizados nas ciências formais, especialmente na lógica. Essa versão atualizada do empirismo tornou-se universalmente conhecida como neopositivismo ou positivismo lógico. O Círculo de Viena consistia numa reunião de intelectuais oriundos de diversas áreas (filosofia, física, matemática, sociologia, etc.) que tinham em comum uma profunda desconfiança em relação a temas de teor metafísico. Para esses filósofos e cientistas, caberia à filosofia elaborar ferramentas teóricas aptas esclarecer os conceitos fundamentais das ciências e revelar os pontos de contatos entre os diversos ramos do conhecimento científico. Nessa tarefa, seria importante mostrar, entre outras coisas, como enunciados altamente abstratos das ciências poderiam ser rigorosamente reduzidos a frases sobre a nossa experiência imediata.